22.8.17

"a cidade"


faço os supercílios de escovas
para arrancar meu corpo da cruz
e trazer algodões doces na alma.
assobiar os lamentos sanguíneos
aos que amam e aos que perdem.
obedecer ao sacrilégio das patas
que com cascos sabem dar adeus.
com a benção do poder superior
honrar os beijos dos iniciantes
sem temer que o cinza que se vê
nos lábios que eu faço de cinzel
seja tudo que não vi quando fiz
da língua um barbante de limo
e da poeira aos poucos o rastro
verde de um catarro aniquilado.
faço das unhas nas paredes a voz
que como nada mais pode perder
avança sem pensamento no vazio
da ruga ancestral que emporcalha
a beleza da queda pela melhoria
com que torço como se parafusos
orelhas ao premeditar minha fuga.

Nenhum comentário: