engulo um a um teus passos
até que estanque
tua capacidade
monstruosa de correr
tua desastrosa forma de
acelerar
de fazer apodrecer o
que não se supunha
mas era parte de uma
verdade caduca
o estômago antecipando fezes
de um dia comum
esse triz que nos move
empalidecidos de pavor
choroso sorriso diante
da chance de compreender
a impossibilidade de
dizer do que se foge para onde
mas quando te vi pela
primeira vez eu sabia
que morcegos de olhos rubros
dormiam em nossos crânios
que margens em transe
nos trouxeram até aqui
que apenas fora da
bondade o amor é uma escolha
que algo nos empurra
para uma troca mais sutil
a vida sutil é um
empurrão gastando os flancos
mas é por falta de
sutileza que duas pessoas se topam
por falta de sutileza nunca
alcançamos sutileza bastante
por falta de sutileza
escrevemos poemas aduncos
nos damos as mãos no
verão antártico das gralhas
deus não entende as
orações dos seus santos
a nobreza é como a
sífilis algo sempre permanece
a morte é a mãe dos
pobres a viagem mais cara
o justo é sempre
indefeso onde o tirano é escolástico
sem ti eu só consigo
pensar no que nos trouxe aqui
a loucura doce de se
largar no que se pressente
estar por um pingo de
si para poder escorrer
na mais linda e
desastrosa forma de acelerar
e me tornar um homem
cego sem passado
para todos os dias poder
sentir o primeiro frio
que teus olhos carregam
na tua ancestralidade
insensata maneira de tocar
o mistério suplicante
no lugar da loucura
erguer a bandeira da imaginação.
Um comentário:
sou toda rota de fuga
e desaceleração
centrípeta
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