5.3.17

"tua desastrosa forma de acelerar"


engulo um a um teus passos até que estanque
tua capacidade monstruosa de correr
tua desastrosa forma de acelerar
de fazer apodrecer o que não se supunha
mas era parte de uma verdade caduca
o estômago antecipando fezes de um dia comum
esse triz que nos move empalidecidos de pavor
choroso sorriso diante da chance de compreender
a impossibilidade de dizer do que se foge para onde
mas quando te vi pela primeira vez eu sabia
que morcegos de olhos rubros dormiam em nossos crânios
que margens em transe nos trouxeram até aqui
que apenas fora da bondade o amor é uma escolha
que algo nos empurra para uma troca mais sutil
a vida sutil é um empurrão gastando os flancos
mas é por falta de sutileza que duas pessoas se topam
por falta de sutileza nunca alcançamos sutileza bastante
por falta de sutileza escrevemos poemas aduncos
nos damos as mãos no verão antártico das gralhas
deus não entende as orações dos seus santos
a nobreza é como a sífilis algo sempre permanece
a morte é a mãe dos pobres a viagem mais cara
o justo é sempre indefeso onde o tirano é escolástico
sem ti eu só consigo pensar no que nos trouxe aqui
a loucura doce de se largar no que se pressente
estar por um pingo de si para poder escorrer
na mais linda e desastrosa forma de acelerar
e me tornar um homem cego sem passado
para todos os dias poder sentir o primeiro frio
que teus olhos carregam na tua ancestralidade
insensata maneira de tocar o mistério suplicante
no lugar da loucura erguer a bandeira da imaginação.

Um comentário:

Isadora P. disse...

sou toda rota de fuga
e desaceleração
centrípeta