10.10.16

“porque já não é mais algo simples”


o sangue é nosso tabu, dizemos ao acordar
e nossa dança é um grito esfarrapado
de sorrimos-cantantes-nas-labaredas
porque todos os dias é o mesmo
tabu do sangue, uns dedos inquietos
que não podem mais se beliscar nos bolsos
bucetas e paus lacrados pela repulsa ao sangue
que se acomoda sempre do lado certo da opinião.
andamos lacrados e pedintes de cara fechada
ou então a loucura agridoce do ser em demasia
porque o sangue é nosso tabu
morremos sem sangue, mas não queremos vê-lo
ruíram as nobres pedras de nossa primeira aprendizagem
patinamos agora sobre as lâminas de novos cumes
ainda em estado de veneno e aparição
e sedentos por uma estrutura mensurável.
o “ao redor” é cômico quase como uma abstração
estás ali também, no “ao redor”, desaparecendo
porque carregas o sem sentido benévolo da continua voragem
porque tens um sorriso de chumbo
porque colecionas sacos plásticos –
porque já não é mais algo simples
viver e ouvir a música.

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