28.9.16

"os bons"


para onde olhas vês bons poetas.
todos parecem sentir com força
tudo que se lê se em seus poemas.
para onde olhas vês bons loucos.
que são poetas em cujos poemas
tudo é sensação mas nada é força.
para onde olhas vês muita força
ou nenhuma força, mas sentes
os termômetros da tua própria
deslizarem febris rumo ao polo.
para onde olhas vês, nos loucos
e nos menos raros bons poetas,
o que deverias ter forçado mais,
para atingir a gentileza satânica,
o equilíbrio entre doçura e faca.


12.9.16

“pessoas sem alma”


pessoas sem alma
declaram-se aos fantasmas
com textos desencarnados
do que morreu de ter alma
e de não poder assim restar
ao lado de pessoas sem alma
elas têm as sobrancelhas
suplicantes e colunas de jornal
que pessoas sem alma
julgam impublicáveis
mas que sustentam pessoas sem alma
divulgam sucessos questionáveis
nos jornais impublicáveis
que pessoas sem alma
compram mantendo vivas
pessoas sem alma que esperam
enfiar um filho no teu útero
cuidado may day boa sorte
mas evite duvidar por favor
das sobrancelhas suplicantes
e dos bolsos sedentos
e do sorriso canalha
acomodado do lado certo
das pessoas sem alma
elas declaram-se aos fantasmas
e eles não têm culpa nenhuma
desde que não sejamos nós
as pessoas sem alma ou mesmo
os fantasmas de que se alimentam.

7.9.16

"de agora em diante"



um lamento de banda oitentista portenha,
uma fuga de pedalinho num lago cercado
pelas forças invencíveis, agora nós vemos,
de uma blitzkrieg açucarada em puteiros,
amanteigada nas ações de bem-aventurança,
uma tonteira de nossos corações neuróticos,
prisão de ventre de nossa pálida religião juvenil.
cabelos não esvoaçam ao sopro da masmorra,
apodrecem-nos assuntos pelas frestas da porta.
sobrevoar junto às moscas a repetição das fezes,
um cerco que nada seja senão um rebotalho,
um ruminar improvável de onde nasce força,
a suspensão violentada de quem fará até o fim.