9.6.15

"oitava de mahler"


leões mansos que nos rodeiam em silêncio
honram o sagrado território do amor.
tudo o que passa é apenas semelhança,
é preciso urgentemente uma cirurgia no coração.
é preciso preencher estas linhas também
como pontos e grampos na pele profanada.
é o silêncio assassino dos leões mansos
aquilo que nos conforta, a natureza dupla
de um rugido de mil leões mansos enjaulados,
e todos cantam apenas o canto do amor
e da vista sem impedimentos e da impossível
trégua ou descanso, mas ilimitada é tua coragem,
enquanto bates o queixo em roupas de cama
nos cômodos infestados por um velho fardo
que também é teu fardo enquanto tremes,
digno de reverência, te bates aos pedaços,
nas ruas destemidas do anonimato, no ódio
de um mundo doente e lindo de ser o único.
quando de repente todo o turbilhão se acalma,
esqueces a coragem e as ratazanas da alma,
e, ao maculado, reservada a beleza provisória
de se estar por um instante entre os deuses.



Um comentário:

Isadora P. disse...

e esses leões mansos? não acredito nessa serenidade professada com suores e tremores.

toda essa beleza cobra o seu peso em sangue arterial.