7.6.15

“eu sou os melhores dias”


não escrevo, não escrevo mais.
sou tão infantil que doem os dentes.
engulo chocolates novamente,
pretendo cáries e votos de compaixão.
todos têm o que dar, mas não dão.
porque somos finalmente adultos.
ser adulto é horrível, mas é melhor
do que pensar que serei adulto um dia.
agora sou, não tenho nada a não ser
camundongos nos cantos da sala
e uma vida que sempre parece
que vai melhorar, pois sou otimista.
meus amigos fazem coisas nítidas
como filhos, cursos, oficinas de poesia.
tento dormir sempre mais um pouco
porque estou deprimido outra vez
e nessas horas penso em gritar:
mais alguém é capaz de estar assim?
seria bonito ver de perto a tristeza
ou a tentativa de felicidade mórbida
de alguém que já não tenha morrido
e que possa olhar para mim e dizer:
sou triste, estou levando, não sei onde,
não sei se está perto, parece colado,
mas te vejo e me vejo como se tivesse
visto você em outros melhores dias.
eu sou os melhores dias de espera.

2 comentários:

Anônimo disse...

um cheiro bem grande por essa poesia linda.
Mary

Isadora P. disse...

os onze versos finais são de cortar o coração com uma lâmina afiadíssima de beleza e dor.

boa produção, essa sua última.

Keep going, morceguiño!