10.4.15

"sacerdotisa"





bruxinha, não se preocupe,
teu caldeirão derramou-se
por dentro do meu instinto.

dias duros servem para afiar
as tuas garras de guaxinim e
a minha escuridão morcega.

afiar, portanto, polir pedras
que bloqueiam os acessos a
ponto de esgarçar os sinos
do nosso maior desespero.

resta perder-se um no outro,
arrombar de olhos fechados
portas que nós inventamos
para proteger esse mistério
fugido para além da criação.

um despertar bestial arrasta
nossos corpos despreparados
por uma correnteza estanque.

feridas, poços premeditados
não faltarão nas corredeiras.
mas perceba, bruxinha, você
é tudo o que trago nos braços.

não é nobre atenuar o trauma,
deslizemos com quatro patas
ao estuário da nossa colisão,
às portas abertas do encontro
entre a violência e a ternura.

o amor também é perder-se,
não se pode de olhos abertos.
nada deve ser preto e branco,
nada mais deve ser atenuado
e este deve ser nosso deleite.

Um comentário:

Isadora P. disse...

Lindeza, lindeza pura.

aceito.

perder-se, me perder em voce, de olhinhos fechados, com o pe em ponta.

amor.