a arte narrativa, todos
sabem, é morta.
estamos, portanto, em narrativo luto.
em luto vivemos, não
uma vida,
ou um romance, mas uma
parábola.
porque as parábolas são
as últimas
tentativas de se tratarem
escombros.
isso dura
ininterruptamente,
a imensidão que anseia
e escapa.
há sempre duas vidas no
coração da culpa.
há sempre dois pecados
na supressão do erro.
é natural pensar que o
deserto
não há de ser o deserto
novamente.
as areias migram – há o
limite
entre aquilo que se enxerga
e o pouso do que se
imagina,
o decolar breve do que
alucina
o mundo, agudas notas
de adeus,
as bocas firmes dos sem
amor,
chaves trêmulas dos sem
firmeza.
estamos todos em perigo
súbito.
há navalhas sorridentes
na corda bamba.
as ruas são sonhos
chuvosos.
suados acordamos,
suados sonhamos.
vivemos com frio nas
ruelas de carne.
tão leve havia de ser, tão
a mercê do sol.
mas é preciso mais que
sol, é preciso
que todos acordem dessa
tragédia.
plantam-se ainda as
foices na terra
adubada pelo que
apodreceu.
e podemos notar as
notas agudas,
as placas que se movem
com a exatidão
de uma artéria que se
rompe.
Um comentário:
Pasolini estaria orgulhoso! <3
Lindo, lindo!
beijos,
guaxinim <>
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