é
preciso que chores baixinho agora
porque
papai está com pés inchados
no
chão de um mar de adivinhações
e
mamãe cativa costurou seus olhos.
agora
enxergas o que se extermina
quando
a noite quebra seus ossos
e
estás mais uma vez diante deste
lugar
onde papai e mamãe foram
e
onde foste concebido com amor.
gilbert
ginsburg, meu bom amigo,
não
se duvida das boas intenções
em
precaver-se da dor deste parto.
é
preciso deslizar ainda um pouco
mais
por esta agudíssima voragem
em
que nada se mexe, mas tu cais.
canto
a ti porque reténs o nome
do
que desperta em plena queda
e
se queima com o ácido do sono
forçado,
sabemos, pela diminuta
cápsula
onde guardas teu segredo.
baixinho,
querido, estamos juntos,
no
quase silêncio que vai tão longe.
abracadabra
agora, e já vais dormir.
Um comentário:
é lindo e tão doloroso esse poema.
a cadência é essa mesma que antecede o sono, litânica, uma prece em desalento e com uma fagulha de esperança que a palavra não alcança e os olhos não veem.
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