2.2.15

"hiroshima coração"




não há maior amor
exceto a guerra.

a vida nas cavernas
é úmida, você está
me matando, você
me faz bem.

 o salitre
todos nós chupamos
diariamente
durante a chuva ácida
no muro.

a loucura
é uma espécie de
inteligência,
algo que só
se pode imaginar
e que de repente
VEMOS
mas quando acaba
não sabemos
mais o que é.

é preciso evitar
pensar sobre as
dificuldades
que o mundo
nos apresenta
algumas vezes.

é preciso às vezes
cair como bomba,
espatifar o corpo
em lados inimigos,
sobrevoar a causa
de tamanho pânico.

somos os amantes
do inimigo da pátria
sem unhas, sem dedos,
três olhos, sem bocas,
cavidades cranianas
expostas ao tiroteio.

nossa história secreta
dirá que não morremos
completamente ainda.

jamais esqueceremos
as cavernas do amor.
jamais esqueceremos
o gosto do impossível.

sinos de sangue badalam
nas migalhas
da nossa deformação.

o amor é inimigo da pátria.
e desde então vivemos
em cavernas.

Um comentário:

Isadora P. disse...

São tantos poemas belíssimos escritos hoje. I'm overwelmed, assustada e deliciada.

algo próximo de uma fulminação.

amo-te.