10.9.14

"não subitamente"




não morreremos subitamente
(ou quem vai mesmo saber)
de embolia pulmonar aos
trinta e um anos de poesia
póstuma e, melhor ainda,
uma poesia não publicada,
e no momento em que falas
ficam para trás negras nuvens
em palavras que escorregam
enquanto alcançamos altura,
sobrevoamos o sutil pecado
de não seguir, seguir adiante,
olhar com muito medo, mas
não morreremos subitamente
(é totalmente improvável)
de embolia pulmonar aos
trinta e um anos de chumbo
morto que se espraia no colo
das altas marés do oblívio.

comemos as mesmas pedras,
frequentamos as pequenas
criaturas das esquinas sujas
e para a lágrima só é preciso
ter fulgores espasmódicos;
desesperada benevolência
de um fogo queimando ao sol.

3 comentários:

Isadora P. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isadora P. disse...

111 (para provar que não sou um robô)

, mas a verdade é que robôs não tão ruins assim, não doem e nem se martirizam com ideia póstumas ou impublicáveis.

é lindíssimo o poema, Leãozinho. Roubaud está a caminho da estante virtual e vai dar pinta no banco do brasil de araruama antes de ir para a nossa casa, pois o endereço de entrega é lá.
engraçada a ideia de um livro de poesia ir parar num dos lugares menos poéticos do nosso universo. mas acho que, no fim das contas, alguns objetos, assim como nós, têm tarefas hercúleas diante de si.

você precisa ver as fotografias da mme. Roubaud. a moça Alix Cléo (nome sensacional, aliás)... Fantasmagoria pura, do jeito que gosto. e, que, desconfio, você também.

Anônimo disse...

Lindo, Leo. Bjs de mary