vagarosamente, mas com olhos rápidos,
há uma insuperável metamorfose
que,
se deixa de nos espantar, é
porque
é uma metamorfose também da
percepção,
de modo que tudo em volta começa
a ganhar um novo critério, e
estarás
muito em breve acostumada a não
saber
do que és feita, pois um novo
critério
afetará novamente a tua
percepção
cada vez mais deformada e,
portanto,
com nova forma, porque
entenderás
em teu próprio corpo, agora
pequeno,
que o que deforma é também o que
dá forma,
e nesse imbróglio de peles
saltitantes
e partículas minúsculas em plena
anarquia
saberás de onde vens cada vez
menos –
isso poderia ser triste e talvez
seja um pouco,
mas ao menos vale para todos nós
e haverá,
contudo, algo mais espesso, como
se fosse
uma espécie de secreção, escuro,
fraterno pacto,
corrente em nossas alterações e
nossas perdas,
e dentro de meu próprio caos incompreensível
saberei que haverá também o teu,
porque viemos
dessa mesma calma, que
esqueceremos juntos.
Um comentário:
Tão comovente que me secretou uma vontade perturbadora de ser sua irmã.
Ou sua filha.
Essa espécie de amor coberta por outros véus e regida por narcisos e outras vênus, sem eros e setas.
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