23.5.14

"carta para cigana"


antes de tudo, NOSSA!, esse poema é realmente muuuuito bom!
dito isso, e ainda sobre o poema, eu tiraria o último verso,
a rima é algo muito sorrateiro e inocente perto de tudo aquilo.
mas ainda bem que eu sou eu e você não é eu, isso é bem legal de saber.
então, não mude nada e, sobre o resto, que fazer?

(você tem toda a razão de estar puta com a tim, acho que, depois de resolver essa pendenga, você deveria sair da tim e migrar para claro, para falarmos um com o outro de graça – eu faria isso se pudesse, mas uma vez tentei assassinar com uma caneta bic um desses atendentes de rede de telefonia, e desde então tenho um tremendo bloqueio com a classe; talvez fosse o melhor para o nosso bolso)

ouvindo lupicínio; não façamos um com o outro algo que
nos permita sentir tamanho rancor que esse homem sente.
mas, no caso dele, que de fato é um poeta maior, esse rancor
se transforma em pétala pesada de chuva, margaridas caindo do céu.
penso muito em ti, continuo desarranjado e sem aviso de paz com minhas entranhas.

há algo de submerso que, ontem à noite, já bem tarde,
quando estava com amigos num bar,
relou com o focinho a superfície do problema.
deitei com os pés para cima no ponto de ônibus.
totalmente vazio, e cansado, e saudoso de muitas coisas.

e com um certo medo progressivo de enlouquecer mais uma vez.

então acabo pensando em ti, nos teus problemas de cigana.
nas linhas da tua mão e nos teus pés de mujique.
nas tuas tardes de saladas coloridas e bicicleta ergométrica.

e nas tuas obsessões, quinta garota.

mas tens absoluta razão em me chamar de meu amor.
não sou nada além disso agora, sempre agora.
não me alimento, ando curvado, resfolego,
mas, apesar dos pesadelos com baratas homicidas,
tenho dormido muito bem e inclusive até mais tarde.

quero grudar com saliva meu amor no teu coração.
temos muito a fazer agora, então mãos à obra!

daquele que morre doce ao ser chamado meu amor.


L. M.

18.5.14

"sensualismo intencional"



são fundas as matas de teus olhos.
cavaleiro desolado me arremesso
sobre os espinhos da tua atenção.
holofote negro este que me fosse
entregue junto ao cálice da vitória.

enredado em patas de guaxinim
chego até aqui de olhos fechados.
são fundas as matas de teus olhos,
digo a mim mesmo na escuridão.
vanglorio-me em ancas pela feira.

chegada a hora do banho primevo,
tento recordar outras matas, vultos
que me recoloquem sobre o cavalo.
mas, cavaleiro desolado, confesso:
é vazio e sexy o rosto do enforcado

9.5.14

"sobre ninfas e gafanhotos"



limpo meu rosto com sabão líquido
e não há novamente energia na casa.
sou um masoquista que rejeita a dor
que procura o masoquista obstinado.
o amor é luxúria mais ciúmes, logo,
contigo não entendo e choro mínimo.
contigo não me movo e morro besta.
contigo removo joelhos sem futuro,
esmago gafanhotos de uma tragédia.
o rosto nunca alcançará o encontro.
perdido nas relações internacionais.
havemos de nos entender no diabo
de nossas peles e mentes empíricas.
o que eu quero de ti é que escolhas
o que não podes silenciar em verbo
e que me faças, com a dor abrasante
dos serrotes eternos dos gafanhotos,
suportar a música das sete espadas.
e sobre eles me ajoelho gigantesco
pois que é som se não se reconecta?
parte melosa, a que eu mais conheço,
dor e morte e falta de talento azulado.
sobre a peça do fim, serrado ao meio,
lanço meu sangue sobre o teu cajado.