28.10.12

"padrinho"


com as unhas sujas de sangue outra vez,
arrasto-me para fora da cama, para a vida.
que o sol lá fora colha milhões de amores,
que a vida por dentro seja pó de tentação,
minhas unhas sujas de sangue dizem algo,
uma confirmação temporária, definitiva.

não lavarei jamais novamente as unhas,
elas ficarão assim pelo tempo usufruído.
nadaremos sem remo nesse mar turvo?
não te perguntarei mais nada, estou mudo.
lavar as mãos é para os bandidos e santos,
talvez tu não venhas a te orgulhar de mim,
mas a lembrança do que ainda geme sujo
por entre as unhas que jamais serão lavadas
é o tiro limpo de que precisamos para morrer.

e sorrirei, e acordarei para sempre sorrindo,
porque sendo possível ver o sangue de perto,
fica mais simples carregar a aresta invisível
do peso do sangue entre os que não surgem.
e não são beijos, nem dedos que vão fundo
naquilo de que dizemos “é deus”, e somos.

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