Numa esquina qualquer dessa avenida que desaparece
para trás e para frente, em pleno desfile da falta de forma,
entre meninos sem pernas, pombos sem asas, macacões amarelo-cor-de-
cobra-venenosa anunciando - compro ouro, diamantes, a última sensação
batida podre ou amassada - em plena prolixa frase metropolitana,
entre padres e bandidos, os ombros encontrados de um travesti
e um menino retardado, quando é impossível deixar de
tornar-se aquele que vai ao seu lado, eu o vejo -
não não é um engano,
nem uma simples e mortal necessidade:
ele passa, justamente ele passa,
com sua camisa igualmente justa
sua barba aberta num leque
as covas da pele comida
os passos pesados de velho primata -
a humanidade perdida
seu fio de prumo
sacola magra jogada aos ombros,
um cigarro pendendo daquele sorriso sacana
de quem escuta o tempo inteiro
aos rugidos dos jaguares -
e quem sabe,
viverá para sempre.
Saído de uma taberna bombardeada no outro lado do mundo
ele passa com sua calma fervente -
regressará ao país da infância,
àquela de quem nunca disse palavra alguma,
ao mesmo quarto diminuto, para certificar-se de que já não existe -
pouco importa.
Ele passa
e nada o detém
e ele não cai -
alas! pela avenida em que escorre o mundo inteiro
pela beleza que já não precisa de agulhas
ele passa
luxuoso
ele passa
devagar desaparece
rastro de solidão no sonho da selva.
um texto de camila moura
10.4.12
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