o ponto morto do poema é o ponto
vivo do poeta, mas, vivo, o poeta
pode apenas vislumbrar o resto
de osso e carne que o aguarda
na insurreição da palavra morta.
é preciso viver, enfim, é preciso
matar o poema ou, do contrário,
seremos mortos de olhos híbridos
apalpando com preces o monstro
biológico, gosma ainda palpitante,
que chamam arte, amor na chuva.
cabe ao verso negar o pálido reflexo
do que, morto, cabe bem na página.
aos mortos cabe o sangue indeciso
daquilo que vacila em concreto fácil:
sovas em acontecimento suspenso.
o poeta é um olho morto convulsivo,
a ele o vácuo da imensidão rasteira.
forçar palavra em pulso de gangrena,
deflorar enfim a vida em sua essência
de assassinato, em sua roupa insegura.
nem corpo de balé, nem água caridosa.
esvair-se feito espinho, ficar feito rosa.
pobre sujo, viúvo, tenebroso, e que pele
mais pura por dentro da garganta nobre.
a vida de um poeta é a morte de um raio.
24.3.12
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