o que me deprime, amor, não é
trabalhar muito e ganhar pouco.
o que me deprime é não saber
de que tipo de ambição sou feito.
porque, se dói, deve haver alguma.
me deprime não sentir vergonha,
por ser o que sou e não ser mais,
acreditar na remissão dos corpos.
me deprime que o mundo esteja
varando minha percepção sem
que reste nada para mim mesmo.
me deprime é não ter convicção
sobre se algo é amor ou desamor,
e me atirar a qualquer colo apenas
por ter perdido a mãe muito cedo
e, pelo mesmo motivo, desamparo,
fazer algumas vezes xixi na cama.
me deprime, meu amor, não poder
mais te dizer “meu amor”; é como
mandam os costumes; e “teu amor”.
deprime sempre que domingo seja
domingo e que usemos domingo
justamente para pensar nas coisas.
então não se preocupe, meu não-
posso-chamar-de-amor, é só mais
um daqueles dias, já passa, talvez
eu até ligue para a sua Ana Paula,
aquela psicanalista linda e perspicaz
que você me indicou da última vez.
quem sabe ela não aceita meu preço.
15.1.12
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2 comentários:
'me deprime é não ter convicção
sobre se algo é amor ou desamor'
lindo o poema! mas coitada da mulher que precisa competir com a sua poesia. se eu fosse ela, eu teria ciúmes da sua poesia.
ei.. querido
gosto de te ler
com ou sem psicanalistas
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