engolimos a idéia de que buscássemos modos
de aliviar a recente decepção revolucionária.
éramos ainda bebês, e nossos pais sentiam-se
como covardes, derrotados por uma ideia tola.
eles não estavam ali dizendo, firmes e fortes:
“será duro ainda, não acabou nada, estou aqui”.
não, nada disso aconteceu, apenas apreendemos
os frutos do amor e não tocamos mais a semente.
nossos pais, logo ao lado, falavam de outra coisa
quando fomos tragados para uma idéia sem fim,
quando abrimos as partituras infestadas e demos
uma boa lição de civilidade, todos egoistamente
atrás de conforto, a cargo de pequenas caridades.
nascemos da caridade dos tempos, não engolimos
pedras, muito pior: acostumamos com a aspereza
no fundo da garganta, e amamos demais, no fim,
estamos perdidos porque temos um amor amoral,
o único amor que, agora sabemos, é amor demais.
as mortes não serão grande coisa por um tempo,
pais e filhos sentarão ainda à mesa sob risos frios.
uma avalanche não se faz de gelo duro, mas com
uma longa exposição ao sol, letárgica exposição
ao que sabemos chamar vida real mas jamais será
outro mundo como aquele, que resolvemos vestir
com determinação e poucas lágrimas, e a frieza
explícita dos encontros de putaria entre líderes
nas salas barbitúricas onde, sem mais demônios,
fizemos nossas regras e pagaremos com sangue.
3 comentários:
¡amén!
Que desabado! Muito bom te ler, Leo. Bjs. Mary
que desabafada!
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