15.8.11

Ausência (V. de Moraes)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos

[que são doces

Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres

[eternamente exausto.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz

[e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz

[a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra

[amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face

Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para

[a madrugada

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui

[o grande íntimo da noite

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos

[no espaço

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono

[desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves,

[das estrelas

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz

[serenizada.

Um comentário:

Anônimo disse...

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz, SIM EXISTE, gozei, perfeito!