9.3.11

"Leonardo Gandolfi"




Arma de Vingança

Digamos que você saiba o meu nome
e o nome do meu cachorro. Digamos que
você tenha razão, errei bastante, fui precipitado.
Digamos que se trate disso, exatamente disso,
não porque eu tivesse a mesma coragem que você
para negociatas cujo fim fosse alguns trocados
sujos que não mudariam a vida de ninguém
nem mesmo a de um professor quase sempre
sem emprego. Digamos que seja isso, isso mesmo,
só porque mais ou menos reproduz o caminho
sem volta que um ou outro têm trilhado, alegrias
e vexames que quase sempre terminam em portas
que, quando não estão fechadas, nós mesmos
fazemos questão de fechá-las. Agora uma suposição,
digamos que você saiba apenas o nome do cachorro
e que esse cachorro não seja exatamente o meu.


Cronologia

Tecnicamente não sou lá boa pessoa.
Amei e fui amado sem ter visto nisso
amor ou o que quer que seja. Em segredo
traí amigos mulheres e a memória alheia.
Cultivei a mentira o medo a covardia,
tudo em seu registro menos assertivo,
e só mais tarde fui aprender que ao melhor mal
coube a mim apenas a melhor resposta.
Pois se houve bem no mal do qual fiz parte
foi o de ver que as pedras que tenho no bolso
também estão no bolso daqueles que não
abracei nem dei a mão. Nossa canção
embora solitária e cheia de paz
é uma só canção e, cante o que cantar,
ouviremos apenas os ruídos deste
que tem sido apesar de tudo o nosso tempo.


*Saiu este belo livro, A Morte de Tony Bennett, obra um tanto instigante e inusitada do carioca Leonardo Gandolfi. Os dois poemas acima, se é que é assim que devemos chamá-los, apenas poemas, estão neste lançamento da Lumme Editor.

Um comentário:

Juan Terenciani disse...

Ganhei este livro quando fiz 19 anos, quinta-feira, do pai de um amigo.
Minha cabeça não acompanha bem todos poemas. Mas, mesmo assim, em algumas folheadas, encontro algumas coisas fascinantes.
- quando me cansei, fui ler Drummond de Andrande.É mais fácil pra mim -

xD - valeW