a orgia virou cinza à luz da enxaqueca –
choro porque dentro de mim há um surdo
e este surdo representa a cor do meu erro,
que de tanto cometer aprendi a amar lúcido
como o pai distante ama o filho enforcado,
e as trombetas se encolhem nos corações
encharcados de tanta fuga e tantos em fuga,
e, na verdade, é uma festa pagã, mas que é
a festa pagã se é também um tempo pagão?
olho minhas unhas pintadas, que de roídas
tornaram-se as unhas de uma prostituta velha.
não haverá ninguém nos esperando, doçura,
quando saltarmos para esse estranho infinito.
as flores, nós teremos que levá-las no bolso,
amanhã estaremos assombrosamente perto,
é devido não amassar com mãos trêmulas
as flores do medo que levamos nos bolsos,
é devido também, se possível, evitar tocá-las,
fundamental referência se vê melhor ao longe,
agora que, à luz da enxaqueca, cinza, a orgia
se apresenta com as mil línguas infectadas,
refratárias da beleza com a visão em brasa.
8.3.11
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