17.2.10

"crime passional"

é preciso ter muito amor,
para enfim matar o amor,
para, não sobrando nada,
termos pelo que morrer.

é preciso não saber nada,
matá-lo como um viciado
atrás do que já não enche
mais o coração desatento.

não se espera a enchente
que arruinará as cidades.
engolimos água e fomos
obrigados a ver os peixes.

uma vez vistos os peixes,
estamos arruinados, não
há nada a fazer, o amor
receberá a faca na nuca.

necessário, infelizmente,
aos com muito amor, ir
na direção do que espera
ainda quente, respirando
com dificuldade horrível

e meter a faca até o fundo
e tirar o sangue, lamber
a faca aos prantos, afinal,
só se mata o que se quer
para sempre vivo, em nós.

3 comentários:

Julia Mendes disse...

é preciso muito amor para enfim matar o amor!

que delícia esse véu branco do seu blog. deu uma clareada nas idéias. gostei da mudança.


beijo

Guido Cavalcante disse...

você sempre encontra uma maneira de comentar o proprio poema - "só se mata o que se quer para sempre vivo, em nós" - tem o pendor de nos dar a chave para saber porque lemos o poema, onde retornamos na mesma hora, relendo, refigurando, refazendo o itinerário

Anônimo disse...

você escreve como ninguém!