22.2.10

“fim de partida”

agora, prometo, calarei minhas chaves,
deixarei escorrer, dolorido, todo visco.
me arrancaram os corrimões infalíveis
e a memória antecipa-se aos acordos.

nada mais de gritos de veludo, os tiros
de festim tornaram-se balas de ponta
metálica, como o gosto no fundo do sexo
que não fornece mais ao cúmulo armas
necessárias para perpetuar com cismas
o que cansamos de matar com nomes.

agora você já vai bem longe, sumiram
os precipícios em cuja beira dormíamos
calmos, o vento parado anuncia cortes,
não mais, porém, os cortes renegados
pelo que no fundo doía de dor legítima.

esquinas não receberão mais as ancas
do que borbota como lava, mas já não
queima, porque somos agora carvões
abandonados ao fogo leve da partida,
e quem sabe voltaremos, quem sabe
um dia não acenderemos como brasas
para deixar a carne ainda crua dentro,
por mais que, fora, a pele não responda.

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