10.12.09

"elegia ao capote de gogol"




existe, é claro, aquela cor cinza,
o frio inigualável de Petersburgo.
funcionários reles, paredes de musgo
somatizam o fedor dos dentes podres.
o salário pequeno, os feitos seguros,
aos quais nos dedicamos sem comer.
nós todos viemos de ti, e roubados
somos diariamente e nem sabemos
quanto temos da nossa própria loucura,
se o inverno será frio dento de casa,
se os ladrões tomarão a cama doentia.
os espelhos serão ventosas coniventes,
estaremos no fim doutra noite de vodca
e assobiaremos canções folclóricas, rindo,
porque, felizes, não sabemos que hienas
rondam e falam e dizem elogios básicos,
para depois nos arrancarem a imagem
do que nem sabemos que somos e nem
quereríamos saber, não fosse este frio
que faz por dentro da casa às escuras
quando gritamos vossa excelência! –
perdoe-nos por sermos nossa história.

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