31.10.09

"casa na colina"

acho que não devo dizer que as mãos me cansam.
chega dessa conversa rancorosa, desse cânone
que em nós dissolve imensas paredes, escombros.
hoje direi apenas: cansei dos homens, sou mais um
que vai para o alto da colina, onde ocorrem mortes
forçadas por um tiro equivocado e um pouco de pó
que se uso visto os chinelos e desço para a margem
e colho flores de segunda categoria na saída da nova
morada onde estão estrangeiros, famintos e loucos,
e sou um pouco dos três, mas ainda me sinto pálido,
com vontade de sair e conversar com os bombeiros
e saber da mulher que mora à porta ao lado e traz
um bebê no colo e outro no ventre e é linda e tem
um filho de olhos azuis e uma origem que me diz dor
e carrega com vontade um galão de gasolina até ali
e penso “ela poderia muito bem incendiar tudo e eu...”
e eu não sei dar fim à frase quando vejo que de fato
abandonei as coisas retas, com pólos reconhecíveis,
e estou aqui, cá com meus trejeitos de cem frases,
e uma frase arrebatadora poderia dizer muito, Elias,
mas “não são os pensamentos mais profundos aqueles
que por mais tempo influenciam o nosso mundo”.

agora os amigos, espero, surgirão das mangueiras,
e teremos falta de comida, falta de água, melancolia
suficiente para cantarmos sozinhos durante o banho
músicas que não gostamos, e que lembram nossos pais.

Um comentário:

peixe disse...

leo, não sei se por ser mulherzinha, por te amar, ou por reconhecer o texto que eu poderia ter escrito se soubesse escrever, enfim, seja lá porque, chorei ao ler e as lagrimas arderam, do mesmo jeito quando arde o mijo depois de uma noite com muito whisky, gim, sei lá.

beijo.