10.1.09

“engraçado como de repente”

engraçado que às vezes basta reclinar a cabeça,
fazer a vez de mago-poeta andando sobre as brasas do caos,
tentar focar os tons mais vivos das cores,
o sol que teima em se mostrar feito prostituta iniciante,
às vezes basta um olhar-para-o-lado-à-procura,
queimar fronhas e lençóis como sinal de fumaça pela janela.

e será que o fato de tocar Rocky Raccoon no rádio –
os cotovelos em sangue escorados no parapeito ausente
– favorece ao desvario repentino em cifras mitológicas?

a falta absoluta de qualquer intuição precisa sobre o movimento
espontâneo do que há ao redor intensifica o cadafalso,
mas a chama prateada do risco insensato é como faísca
nos olhos despreparados para o encantamento,
cansados de ser mostrados para onde não se deve olhar.

engraçado como basta, de repente, um olhar desatento
que titubeia, tomba para o lado e se fixa, vazio de sentido,
além da piedade que também deveria ser preciso sentir
por estarmos cercados pelas sirenes, fechando, fechando.

Um comentário:

natércia pontes disse...

leo! estou contigo na sacada, posso?
eu vejo a baia de guanabara, eu vejo os olhinhos pretos de leo, os cílios retos, marejadinhos de chope, que saudade de tu.