8.1.09

"blaise cendrars"

passa arrastando-se diante de mim
o homem arrasado sobre muletas.
na cara de dor o sorriso constante
contrasta com sonhos de caverna.
a perna tomada pela gota, a pata
bem mais que um pé fere a visão.
além eunucos equilibram pastas
diante da cruel visão do concreto.
com a pele curtida de sol, assada,
ele não tem uma perna, o alfinete
prende a boca da calça sem perna
e, curiosamente, está bem vestido.
o homem pode ser Blaise Cendrars
voltando aleijado da viagem infeliz.
como Blaise, esse infeliz sem perna
havia viajado muitas vezes e ainda
viajaria outras muitas mais, apenas
que eu, do outro lado da rua, nunca
poderia compreender o que faz um
homem viajar tantas vezes e assim
permanecer além do tempo, como
alguém que inventou o muito longe:
os maníacos cavadores de confins

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