19.9.08

"Helena Ignez"

chovia, sim, chovia hoje,
e ninguem mais sabia
onde chovia, se era dentro
ou se era fora do corpo.
fora certamente chovia,
dentro era um presságio,
e talvez porque eu usasse
meu fantástico sobretudo
talvez isso fosse chover.
era uma padaria, era sim,
era uma padaria, e lá eu vi
a eterna musa do cinema
brasileiro, quando havia
cinema brasileiro, cinema
de vários lugares, e ela era
musa do cinema brasileiro:
Helena Ignez – e eu a vi
com meu sobretudo e ela
talvez achasse legal pois
olhou para mim sorrindo
um sorriso longe de musa
e ela estava velha, a musa
parecia fruta seca, poética,
e como no caso das grandes
aparições eu não fiz nada
mas pensei que gastamos
muito pouco nosso corpo
preocupados em durar algo
e ao morrer não sabemos
porque demorou tanto.

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