o amor é uma arma
usada por covardes
com medo da vida.
o amor é uma ferida
que mantém a busca
pela espera frenética
que porá em risco
as nossas estruturas
e, sem dúvida, um dia
nos matará, pela falta.
ridículo falar do amor
como a cura do indigno,
como a ponte do suicida,
como a razão do sociopata,
como a fome do inválido,
como a bengala do cego.
mas o amor é tudo isso.
um erro por dia e planos,
o amor se basta na vontade,
porque, tal como o sonho,
o amor só vale noutro plano.
o presente do amor são juras
hipotéticas, metalingüísticas.
essência do amor é a solidão,
fonte dos poemas e das mentiras.
jamais haveria o amor solene
se não houvesse um abandonado.
o amor poético se dissolve fácil
no chá silencioso dos hipócritas.
ao falarmos “amor, amor, amor”
não precisamos falar “que fome”,
“como está frio aqui”, “eu tenho
o que eu preciso e me sinto vazio”,
“eu não sei o que preciso e sofro”.
mas em vez disso temos sempre
o amor cúmplice, o amor covarde,
o amor por tendência, construtivo,
positivista: o amor com ventosas.
o amor é mesmo a planta química
devorada por bocas anestesiadas.
ou talvez o amor seja outra coisa,
palavra fora daquilo que se pensa.
ninho de enigmas carmesim,
o amor ergueu acampamento:
ele também se esgotou de si.
portanto não se preocupe
se ao olhar fundo nos olhos
houver apenas um e um: dois.
com amor demais matamos,
degolamos desejos, sorrimos
pensando no que vai nos salvar.
quem sabe tendo o amor fugido
nos juntaremos outra vez por medo
e do medo, talvez, a igualdade
possa nos manter em silêncio,
mas ao menos de mãos dadas.
2.9.08
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Um comentário:
Adorei, Léo! Muito bonito.
Tenho saudades de você!
Beijo enorme!
Cami
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