12.8.08

"beethoven"

a palavra “peripatético”, a belíssima
palavra “peripatético” era muito
usada para defini-lo.

seu rugido alto, os braços sacudindo
enquanto andava à procura
da nota perdida no bosque, ao lidar
com as provações do mundo,
e as suas eram provações enormes.

hoje resolvi escrever para você, Beethoven,
o salteador de monarcas, o impulso pagão,
a prova mais concreta de que deus existe,
avarento inconcebível, crateras no rosto,
atarracado de andar inclinado para frente,
como quem espera por um raio ou surto,
os cabelos crespos, a pele flamenga, suja.

quem só sentiu-se bem dentro da própria gruta
e estabeleceu a síndrome do dilema contínuo
entre céu e inferno: seu gênio sendo inferno puro,
o céu pouso suave em meio ao sangue derramado.

hoje resolvi escrever sobre você com fome.
porque também eu me sentia traído por algo
sem forma muito definida, anterior à forma.
sem nenhuma culpa sentia-me enjaulado,
a mesma síndrome: mais um surdo crônico.

na minha ilusão de mundo possível
talvez com fome eu pudesse sentir
um pouco da fome que você sentiu
e quem sabe ouvir o ruído mágico
para então continuar até o cancro.

2 comentários:

Anônimo disse...

...tão forte quanto as sinfonias.

Cinecasulófilo disse...

oi leo passei por aqui, te mando um abraço