4.6.08

"half a hamlet"

a morte com ordem é a chance
de matar deus pela garganta
e olhar com ânsia o que apavora
o peito híbrido, de sangue irônico,
que não suporta segurar as tripas.
fazer fazer fazer, deixar vir o sono.

e mesmo massacrado, pela metade,
seguir até o fim, empurrar à frente,
juntar os cacos com as mãos cortadas.
não haverá crânios, a foice em riste
fará mármore o tronco sem cabeça.

e dizer mil vezes: “não é possível”,
mas seguir ainda, não ser tão bom.
homem pequeno, poeta faminto,
de olhos vagos, coração na mão,
perdido em discursos, preso à carne,
fugir das âncoras e dos penhascos.

e com menos da metade, só um toco,
quase o antigo feto ainda sem braços,
dar outra vez a volta e, desnorteado,
cair enfim de joelhos, o sorriso inútil,
e a dor no estômago de quem espera.