12.2.08

"Marta"

Seu nome era Marta, escritora de longos romances e ensaios filosóficos acerca da existência humana, Marta, que certamente lia livros policiais de capa cor de rosa, Marta-Dorothy Parker-Clarice Lispector, Marta quase Ana C., dava para se perceber, ninguém chamado Marta pode ser outra coisa se não escritora ou atleta. Ela poderia ser os dois, estava na pista onde alguns dançavam em ritmo blow-up, se agarrando lascivamente com um camarada um tanto duvidoso. Era óbvio que para ela não passava de um consolo, algo a que se apegar por uns minutos. Marta dos cabelos curtos, franja seca, Marta despercebida de todo o seu próprio mistério, Marta, o mistério despercebido e fulminante da pronuncia de “Marta”, escritora certamente de contos e poesias e ainda por cima uma entusiasta, de certo, da grande literatura, autora de livros infantis sobre a morbidez, Marta dos pés grandes, pés de Marta sobre o chão, cuidado, Marta, com o samba, com o chão nas tuas costas, escorregando... Apenas um deslize e Marta retorna placidamente à sua posição de vestido colorido costurado junto ao corpo, seda chinesa e botas envernizadas estilo Nancy Sinatra, óculos de lente, um deles rachado, três graus e meio de miopia, a dança do coito e sexo jamais, meu deus, Marta, por que fui chegar perto de ti, escritora suicida, premiada, Jabuti e o escambau, apenas para dizer duas ou três bobagens, e te chamar de Mara?

2 comentários:

Anônimo disse...

amei.
simples assim.

Anônimo disse...

Adoro quando sumo e retorno e tenho muito o que ler. Você dá sempre vontade de mais e mais e mais.
Saudade nem é mais o nome certo prá nós.