"A guerra prosseguia e homens estavam sendo massacrados, um milhão, dois milhões, cinco milhões, dez milhões, vinte milhões, finalmente cem milhões, depois um bilhão, todos, homens, mulheres e crianças, até o último. ‘Não!’, gritavam eles. ‘Não! Eles não passarão!’ E no entanto todos passaram; todos tiveram passe livre, quer gritassem sim ou não. No meio desta triunfante demonstração de osmose espiritualmente destruidora eu me sentei com os pés plantados sobre a grande mesa tentando me comunicar com Zeus, o pai das atlantes, e com sua progênie perdida, ignorante de que Apollinaire devia morrer um dia antes do armistício em um hospital militar, ignorante de que em sua ‘nova estrutura’ ele havia traçado estas linhas indeléveis:
Sede clemente quando nos comparardes
Com aqueles que foram a perfeição da ordem.
Nós que em toda parte procuramos aventura,
Nós não somos vossos inimigos.
Nós queremos dar-vos vastos e estranhos domínios
Onde florescente mistério espera por aquele que for colhê-lo.
Ignorante de que neste mesmo poema ele havia também escrito:
Tende compaixão de nós que estamos sempre lutando nas fronteiras.
Sede clemente quando nos comparardes
Com aqueles que foram a perfeição da ordem.
Nós que em toda parte procuramos aventura,
Nós não somos vossos inimigos.
Nós queremos dar-vos vastos e estranhos domínios
Onde florescente mistério espera por aquele que for colhê-lo.
Ignorante de que neste mesmo poema ele havia também escrito:
Tende compaixão de nós que estamos sempre lutando nas fronteiras.
Do infinito e do futuro
Compaixão por nossos erros, compaixão por nossos pecados.”
* trecho de "Trópico de Capricórnio", 1939, de Henry Miller, na tradução de Aydano Arruda.
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