16.11.07

"São Paulo não está"

São Paulo não está
nas discussões acaloradas
sobre o que não é São Paulo.

São Paulo nunca estaria
nas cabeças esmagadas sobre os meio-fios,
nos postes apagados, nós sozinhos à procura,
na fumaça que respiramos em silêncio e seguimos,
no som que faz pensar em deus e vem do Chá,
nas catacumbas submersas, nos assustados que apenas estão,
em Mario de Andrade atrás de amor na Consolação,
no casal que não conversa há anos e sorri igual,
nas mulatas Di Cavalcanti, aquele punheteiro genial,
nos dedos grossos de Candido não tão cândido Portinari.

São Paulo não está
nos risíveis senhores mijados e alegres,
na perda da virgindade do gênio baiano,
nos arranha-céus iguais a Tóquio ou Hong Kong,
não está nos seus japoneses vindos de Quixeramobim.

São Paulo não está
entre uma esquina escura e a história forjada,
nos olhares caipiras para seus corredores vazios e largos,
suas pessoas que nem formigas,
seus colaboradores imaginários,
sua caretice e suas matinês de putaria,
sua rotina supervalorizada e poética,
suas mensagens engarrafadas lançadas ao mar,
seu mar uma fila interminável de concreto em movimento.
muito menos São Paulo estará
nos seus mimetismos e sua marginália.

São Paulo não está
nas ruas de São Paulo,
na solidão indiscutível de São Paulo,
muito menos São Paulo está
nas pessoas que habitam São Paulo,
no beijo único sem abraço,
no cumprimento entre estranhos.

São Paulo não tem tamanho,
não é grande nem pequena,
não está em mim nem em você.
por isso é possível amar São Paulo.
porque São Paulo não está em nós.

Um comentário:

Anônimo disse...

viva Sampa! SP está em sua poesia.
bj. mary