13.9.07

"O carro vermelho"

Todos pensavam se aquilo poderia ser apenas passageiro. Ninguém andava ou se mexia. Esperávamos alheios, cada um com seu tipo de loucura. As luzes dos carros iluminavam os mendigos, que se retorciam em caretas indesejáveis. Ela esperava o ônibus enrolando os cabelos crespos muito claros. Muito clara ela também, do queixo proeminente.
Vaga ascendência africana, em pecado era polonesa. Nos cabelos dava em nó um coque, os cabelos soltavam-se gentilmente. Melhor: soltavam-se doucement, como se diz em francês. Neste caso é mais apropriado o francês. Então ela repetia o processo.
Eu tomava um suco e pensava sobre o meu futuro imediato escorado no balcão de uma lanchonete barata onde homens obesos discutiam futebol.

Ela esperava o ônibus, olhava para trás, um coque nos cabelos, olhava para os lados, o coque se desmanchava.De repente se levantou, tênis all-star e calça roxa colada, parou no meio da rua, estabanada, olhou para trás – para mim? – olhou para os lados. Estaria perdida? Seria o destino, mesmo atrasado após tantos equívocos?
Ela parecia perdida, um lado e depois outro, eu estava perdido, ela precisava de ajuda, eu precisava de... Era bela, o destino, serenatas, poemas, quedas d’água...
Cheguei perto: os pés distantes do chão, a calma forjada dos já não mais tão jovens.
- Você precisa de alguma coisa?

Seus olhos brilhavam. Era bela, o destino, um lado e depois outro. Então dobrou a esquina um carro vermelho, abriu-se a porta do carro e aquele era um excelente perfume, que vinha de dentro do carro vermelho. E dentro dele havia também um homem. E dentro do homem um sorriso malicioso. Porque era bela, o destino, e ele também sabia, o homem do carro vermelho, que dobrou a esquina e depois a levou de lá, o queixo proeminente, a culpa polonesa, vagas tribos africanas, o suco no bagaço.

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