24.7.07

"gene"

há que tratar o corpo do poema
como se trata o corpo da mulher.
para os homens, guerras e máquinas:
que morram os homens como quiserem.
o poema é todo ele fêmea escachada.

uma noite com ele, a vida presa a ele.
jamais diga algo de que ele se lembre
e quando ele gritar – e ele vai gritar –
cale-se, não revide, sorria se possível.

permita ao poema passar livremente.
a nós cabe apenas o rebolar do poema,
enquanto ele escapa de nós outra vez.

deve-se quem sabe apunhalar o poema,
talvez por desespero ou pura vaidade –
e aos criminosos será o fim da poesia.

olhe no fundo dos olhos do poema,
massageie sua pele, cheire seus pêlos.
depois observe como o poema dorme,
os olhos trêmulos, a face tranqüila.

então será possível ouvir seu coração.

finalmente, acordar o poema,
acordá-lo com um susto bom.
lamber, massagear, mordiscar
o clitóris do poema ainda sonolento,
até deixar a língua do poema gelada
e fazê-lo gozar aos prantos,
como se fosse morrer de prazer.

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