5.7.07

"balada para jack à luz de juca"

o tempo que se perde
contra o tempo ganho.
será essa a única manta
do desmistificado parto?

de quem Dali um dia disse:
“o homem mais bonito...”

um homem convicto
de signo incerto
que nasceu do vinho
e morreu depressa.

quem um dia soube antes
ser o que antes não sabia.

o tempo tomou benzedrina
e nada mais seguiu adiante.
todos ainda precisamos amar,
desde que desesperadamente,
mas o desespero causa janelas.

e o movimento se congela
mas não como nos filmes
quando o clímax escurece.

e sim enquanto sorrimos,
enquanto levamos a culpa
e nosso sangue vira pedra
e amamos demais, e disso
alguém diz: “não é nada”.

eu quero te dizer, camarada,
que minha mãe está enterrada
e que à época não tive chance
para sentir sua forma infecta,
para molhar seu ombro oco.

ela foi enterrada, camarada,
de um modo que ainda persiste.
dela restou o que da minha ossada
reside com outros no ossário geral
do cemitério São João Batista.

Um comentário:

natércia pontes disse...

que lindo, leo. lindo, lindo, lindo.
"mas o desespero causa janelas."
um beijo de perto,