engolir à seco e não saber do que é feito
o cimento secreto da ternura-cadafalso,
do que são feitas as famílias comidas pela traça,
do que é feito o riso ereto do senador da república,
ou o movimento pudico do estupro à bailarina.
engolir à seco e não saber se amanhece ainda,
se estamos dentro do que estamos fora,
se fora estarmos dentro de onde não estamos,
estamos onde ninguém mais se encontra,
sem saber do que é feita a sombra do monstro
que usa nossas roupas e atende pelo nosso nome,
ou o que fazer com as escadarias silenciosas
do pavor premeditado por pétalas de plástico.
e, mesmo assim, engolir à seco, colher pedaços
diários das falhas mais ardentes declaradas
porque mesmo falhas são falhas nascentes
de olhos humanos, correnteza de saturno,
para ter um pouco do erro próprio e da luz
que nos faz lasca de deus e rota de paz
onde anjos penitentes se alimentam do carma
do que degolam e, mesmo assim, engolir à seco
o que à noite esvazia os cérebros delicadamente
e nas manhãs frias nos faz pensar em casamento,
em sapatos virados de baixo da cama em chamas,
nas costas que protegemos com abraços forçados,
nas revelações imaginárias das tardes coloridas,
quando não se imagina nada, apenas se permanece,
e em tudo mais que, mesmo assim, à seco engolido,
faz a gente lamber os dedos sem saber que gosto.
5.7.07
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