25.5.07

"Rua Augusta"

Via-se através do espelho avermelhado a sombra perfilada do cantor de voz trêmula barítono, e era aquela antiga sensação de que se usava a expressão “antiga sensação” sempre para tratar de algo completamente novo, pois o que chamamos de antigo é aquilo que não mais tocamos e está em nós, intocado, como flocos de sentido. Uma senhora hippie, melhor, uma hippie senhora se aproximou da nossa mesa e nos ofereceu cigarros aromatizantes enrolados em folhas de uva. Era de certa forma irônico que só eu, enquanto meu yin e meu yang estrebuchavam animosidades ao meu lado, prestasse atenção naquela pobre senhora hippie, hippie senhora dos dentes separados – que do seu jeito meio pálido, me levou a transcendências. Emocionaram-me as folhas de uva, a voz barítono, os dois – yin yang, vê se pode - se dando bem à minha revelia, pobre senhora, “na verdade, estes cigarros são feitos com especiarias da China”, sou pobre também, hippie senhora, aceito os cigarros de uva, quero cachos, minha senhora, quero cachos!

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