4.5.07

"o resgate da formiga: todos nós"

uma formiga perdida na minha escrivaninha,
de repente mais perdida: sobre meu pulso.

pelo que eu penso: mato agora essa formiga.
depois reparo, porque toca o Réquiem de Mozart:
se ela se perdeu do resto, como agora estou eu?

então faço tudo para, com o dedo, tirá-la dali.
isso quando poderia muito bem matá-la sem culpa.
– e quantas vezes não matamos pela nossa culpa?

a pobre se debate sozinha, perdida no meu antebraço.
eu falo para ela: vamos, te ponho de volta na mesa.
mas ela não tem ouvidos, é preta, cega, mínima, seca.
e todos nós, em grupos, somos do mesmo jeito sem saber.

por fim ela se rende, talvez sentindo a morte, e sobe
no meu dedo que, também perdido, apenas maior, a devolve
à escrivaninha, onde ela continua sozinha como todos –
e isso, percebo, me enternece muito mais do que Mozart.

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