O resto deve ser reduzido pouco a pouco, leio no final do meu horóscopo do dia, e a mulher comigo diz que “são todos embaralhados e sorteados pelos piores estagiários, os horóscopos do dia”, e de fato olho para ela e penso como é estranha a expressão “a mulher comigo”, enquanto atrás de mim toca um telefone, tocam vários telefones, e ouço palavras numa língua que não conheço, parecem altas as palavras, mas são muitas e, desconexas, todas começam como terminam, mas aparentemente só a mim incomodam, pelo que me viro para trás e vejo um sujeito atlético, de uns 50 anos, mas que fala como se tivesse 15, discutindo em termos baixíssimos com outro sujeito de uns 50 anos, mas que aparenta 70, os dois discutem e fumam cigarros de maconha, que parecem surgir da areia como esfinges não-poéticas, tais quais as mulheres desesperadas, que sorriem e lêem Rosamunde Pilcher, ou como o negro pobre retirante nordestino, que há milhares de anos, talvez mais, nos oferece algo para beber - e os gritos se atrasam para mais uma revolução, enquanto leitores de Zuenir Ventura e Deleuze aplaudem o pôr-do-sol.
2 comentários:
Demais!
clap, clap, clap!
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