17.4.07

"Adeus, poesia" (Jorge de Lima)

Senhor Jesus, o século está podre.
Onde é que vou buscar poesia?
Devo despir-me de todos os mantos,
os belos mantos que o mundo me deu.
Devo despir o manto mais puro.
Senhor Jesus, o século está doente.
O século está rico, o século está gordo.
Devo despir-me do que é belo,
devo despir-me da poesia,
devo despir-me do manto mais puro
que o tempo me deu, que a vida me dá.
Quero leveza no vosso caminho.
Até o que é belo me pesa nos ombros,
até a poesia acima do mundo,
acima do tempo, acima da vida,
me esmaga na terra, me prende nas coisas.
Eu quero uma voz mais forte que o poema,
mais forte que o inferno, mais dura do que a morte:
eu quero uma força mais perto de Vós.
Eu quero despir-me da voz e dos olhos,
dos outros sentidos, das outras prisões,
não posso Senhor: o tempo está doente.
Os gritos da terra, dos homens sofrendo,
me prendem, me puxam - me dai Vossa mão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Jorge Lima,e suas poesias são engrandecedoras.
Nesse poema o eu-lírico um pouco barroco, pois pratica a luxuria sabendo q é pecado e pede pra q Deus o afaste do pecado. Há a presença também da teoria do "bom selvagem", pois o eu-lirico julga-se um pouco inflenciado pela sociedade,acreditando que é sendo materialista para q participe dela "Os gritos da terra, dos homens sofrendo,
me prendem, me puxam - me dai Vossa mão" ...
É um poema muito revelador, além de religiosa.