13.3.07

"A morte de Desdêmona" (Eugene Delacroix - 1858)


"Otelo"

querer o que não se pode dar.
querer tudo, demais, para sempre,
depois nunca mais.

querer nunca como se melhor não ouvir a voz.
rejeitar o que nos espelha sobre a superfície
dos olhos nas estátuas decapitadas.

almejar a pureza, forçar a pureza como se fosse virtude.
mas que vagos poros pontuam nossos corpos sonâmbulos?
que hora exata de sede é essa: de se olhar no espelho
ao final de uma noite de prevaricações?

e logo depois a náusea de ter sede nenhuma.
ter o que não se pode domar.
essa apropriação do sangue das nossas ofensas emudecidas.
a compaixão pela aceitação da própria indiferença.
o enterro da semente não plantada.

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