23.3.07

"as mulheres do meu trabalho"

as mulheres do meu trabalho
falam de amores perdidos,
filhos, maridos, pseudo-namorados
e de encontros inesperados impossíveis
para impressionar a concepção
que elas tem umas das outras.

sempre que pedem minha opinião
normalmente quando estou desligado
(quando sempre estou desligado)
perguntam mais ou menos assim:
“e você, pensa o que sobre isso?”
então eu digo alguma coisa “radical”
alguma coisa pouco desenvolvida
uma frase, “gosto sim”, um murmúrio.

“mas ele não conta, ele é aquariano”,
uma delas diz, e voltam a falar entre si.

com o tempo percebo e entendo a tragédia
de ser mais uma “mulher do meu trabalho”.
com o tempo percebo que o amor para elas
é uma moeda de troca no crack da bolsa
na recessão do mercado emocional.

elas tratam do primeiro impacto, do tesão
como algo que se pode esperar que se pense.
elas vivem a vida como quem pede desculpas
por esperar que a vida simplesmente aconteça.
e por isso deveriam pedir desculpas, afinal?

quem pede desculpas somos nós.

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