26.1.07

“um blue”

há um homem nu sentado
numa cadeira de madeira pensando
numa mulher triste num sofá.

o homem nu pensa
que pensa sozinho
– não está.

existe algo que vai
entrar pela sua porta.
existe uma satisfação
pela neutralidade da cena.
há um amor arrancado
a fogo de dentro da pele.
existe uma pele esquecida
castrada do amor das almas.
existe uma música, um tremor?
não, não existe música ou tremor,
apenas um estado de fechar piano,
um blue mais fundo que o findo som.

há o tremeluzir de algo pairante,
que vai avante com violência.
a mulher triste num sofá
está pensando em Skip James,
no câncer maligno de Skip James.

o homem nu que há sentado
numa cadeira de madeira pensando
numa mulher triste num sofá

não sabe que ela está pensando
no câncer maligno de Skip James.
o homem nu que há sentado
numa cadeira de madeira está pensando
no câncer maligno de Skip James.

e assim os dois morrem
de pensar sem saber juntos
e Skip James sobrevive.

3 comentários:

Anônimo disse...

Arrrf!!! Tão boa que transborda!

Saudades... Dê notícias! (Seu inferno astral acaba 4 de fevereiro, hehehe...)

natércia pontes disse...

foi pra mim?

leonardo marona disse...

sim, nat, sim. saudades e falta de como ter. espero que esteja tudo bem. carol, me dá teu número. baccio a tutti.