14.12.06

“o fim da poesia”

Pela primeira vez na vida
vi ao vivo o Grandioso Poeta
cujos versos, dizia-se por aí,
se não foram escritos na água,
eram a própria água em linha.

Isso foi no dia dos pais
e eu estava com o meu
almoçando no Bar Lamas.

Ele me dizia qualquer coisa
sobre nos aproximarmos mais mas
meus olhos discretamente vidrados
na mesa ao lado onde o poeta estava
sentado em curva, mudo, olhando para baixo
distante enquanto ao seu lado
uma senhora hesitante metida num conjunto estampado
(colar de pérolas apertado no pescoço de pato)
tomava uma sopa com pedaços boiando dentro
(onde estavam os olhos do poeta?).

Outra mais moça também os acompanhava
– afinal, tudo se passava no dia dos pais –
vestida com roupas pretas em estilo gótico
cheia de brincos espalhados pelo rosto,
os cabelos da cor de uma falsa laranja,
falava alto no telefone celular e tinha olheiras,
em frente a um embrulho de papel celofane.

Então eu me virei, dei um abraço no meu pai
e disse: “acho que precisamos nos aproximar”.

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