cantava-se em coro, meninas in vitro:
“odeeeeeeeio você!”
viam-se os tímpanos, manifestação costeleta.
“não, não sei, não odeio, não se diz isso, não em música...”
“mas Caetano...”
“ele devia amar!”
mais de mil olhos de fogo com lanças para cima:
“odeeeeeeeio você!”
quando o assunto escorre e a pessoa é querida, somos como adolescentes antes da ferida – depois? – vamos conversar como cidadãos inaptos e sensíveis, mas conversar sobre o quê?
“oi” – olha para um, cumprimenta outro – “eu detesto (outra pessoa com olhos) gente arrogante”.
“sei...”
“você gosta?”
“de quê?”
“gente arrogante...”
“sou neutro”.
“como, neutro?”
“gente arrogante o tempo todo, você também, eu, todo mundo... eu penso: perdi a vontade”.
“então você é mais evoluído”.
“você é”.
“quando o Caetano canta que odeia alguém como refrão, ele quer só esvaziar”.
“uma coisa é o Caetano esvaziar...”
“sim”.
“outra coisa sou eu te odiar... isso enche”.
“é brincadeira... metáfora moderna”.
“me preocupa o fato de eu não conseguir mais detestar a arrogância. acho que minha arrogância chegou a esse ponto”.
“odeeeeeeeio você!”
sobe som. morrem todos, não de amor.
22.12.06
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Um comentário:
é, muitas consoantes e poucas vogais. quanto mais difícil melhor. e o pior é que essa é a música do cd que mais gosto. para mim o caetano cantar odeio você foi só um gesto de liberdade, libertação. ele tava pensando em alguém sim, na horinha que compôs, cantar "odeio você" é um processo catartico, uma postura anti-social. o que o público entende disso eu não sei. sei que esse tal de público estragou o meu show.
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