20.10.06

“constatações óbvias não momentâneas”

as coisas estão ficando bastante perigosas,
existem sérios riscos de acidente no ar.
persistem os critérios cínicos e o mar,
apesar de parecer uma estultice heróica
seu amarelo cansado de tanta ressaca,
acorda de manhã de acordo com o espelho.

Caetano fez um bom disco de músicas inéditas,
Buarque fez um mau disco de músicas inéditas,
Bob Dylan fez um bom disco de músicas inéditas
(só que as letras foram plagiadas: sorte do poeta).
Marisa Monte está tocando o cavaquinho como convém:
pelo ingresso – na bilheteria padronizada por segredos inconcebíveis
você se diverte com drinques morais à moda da casa – e paga só cem.

ontem sonhei que era o detetive Philip Marlowe e podia voar on the rocks.
as chaves do apartamento, pedir que Nilva traga as chaves do apartamento.
há brigas por menos que nada e as pessoas se preocupam em explicar tudo.
a teoria das abelhas é filosoficamente vital,
mas o trabalho das moscas é indispensável.
o artista, quando nasce, necessariamente morre.
e seus restos humanos residem na contradição
que lhe permite descaradamente
permitir que o corpo viva em vão.

mas comigo isso não acontece
e apesar de tudo tenho
absoluta convicção de que
aquilo que Brahms fez
na quarta sinfonia
não foi música e sim
uma espécie de pintura rítmica.

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