eu te chamei minha verdade afoita
sem saber transformar tua imagem
assim como as asas da tua vertigem
numa poesia de tentação em folha.
e mesmo se soubesse precisaria de mais...
de muito mais vinho e muito mais escolhas
para ressuscitar todos os nossos portos
– os vivos e os mortos –
que agora me parecem tão distantes
como se não tivessem existido antes
ou fossem apenas blefes de nuvens.
existem tantos espaços vazios cobrando espaço
e tão pouco espaço vazio para ser ocupado
que é como se estivéssemos cheios de vácuo
como se fôssemos apenas bestas pensantes
por trás de esquivos sorrisos pedintes
poças de água e pele que para nada servem
a não ser para reconhecer e glorificar
nossos próprios desacertos.
não os de toda a humanidade, é claro
pois cada um tem suas virtudes
e nenhuma virtude é igual à outra
inclusive elas juntas se trucidam.
portanto não há coletivo.
coletividade é escravidão.
há sempre um vulto tirânico
atrás do vidro da televisão.
e afinal precisamos amar a vida
não como quem está habituado à vida
– parafraseando bigodes sábios –
mas como quem está habituado a amar.
portanto te exorto, lindo fluxo!
água benta que me escorre entre as pernas!
bolhas de sabão e borboletas!
voemos todos por sobre a ponte, voemos!
entre a prisão perpétua da dúvida
e a escravidão da crença...
e como cegos mecânicos camelos
carreguemos o deserto até os leões
e depois deixemos tudo com as crianças.
que importa que a guerra seja longa e úmida...
haverá guerreiro que gostaria de ser poupado?
23.8.06
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Um comentário:
fico com essa frase "portanto te exorto, lindo fluxo!"
mas juro que o final foi genial.
um dia desses beiro a revolução e vou perguntar sua identidade.
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